IF YOU WANT,YOU CAN LISTEN MUSIC

sábado, 4 de outubro de 2008

"Luar de Inverno", Óleo s/tela, 50x40cm

Por que tens, por que tens olhos escuros

E mãos lânguidas, loucas e sem fim

Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim

Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros

Num rosto como o teu criança assim

Quem te criou tão boa para o ruim

E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa

A alma que por ti soluça nua

E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua

Vagabunda, patética, indefesa

Ó minha branca e pequenina lua!

(autor: Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Lisboa VI (vista parcial do Castelo de S.Jorge), óleo s/tela, 100x60cm

... O castelo contempla impávido
do alto da sua colina
a cidade que conhece
desde quando era menina...
(Excerto do poema "Lisboa de Ogun"
de Fernando Girão)

Lisboa III (vista parcial c/ Igj.Sto. Estevão e Tejo), óleo s/tela, 100x60cm

Lisboa

Lisboa com suas casas

De várias cores,

Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores ...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores. Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,

Lisboa com suas casas

De várias cores.

(autor: Álvaro de Campos,
heterónimo de Fernando Pessoa)